Tudo sobre Campina Grande: história, cultura e curiosidades!

A cidade de Campina Grande completa aniversário no dia 11 de outubro de 2023. São 159 anos como município, porém a sua ocupação é bem mais antiga e sua história vale a pena ser conhecida.

Eu escrevo este texto em homenagem a esta cidade que me acolheu tão bem desde as primeiras vindas, em 2019. Na época, eu não imaginava que me tornaria mais um feliz habitante da Rainha da Borborema. Reforço a convite para seguir a leitura a conhecer mais sobre Campina Grande, essa potência de cidade do interior nordestino (já estou falando como campinense).   Campina é a segunda maior cidade da Paraíba, está localizada no estado da Paraíba, distante 130km de João Pessoa, a capital e do litoral. Apesar não contar com os encantos das praias, o campinense — e aqueles que assim como eu já se sentem um pouco filho desta terra — tem muito do que se orgulhar.

Marcos históricos de Campina Grande

Fundada em 1 de dezembro de 1697, acredita-se que a ocupação de Campina Grande teve início com os índios Ariús, trazidos pelo português Teodósio de Oliveira Lêdo, Capitão-Mor do Sertão.   A versão é contestada, pois alguns historiadores dizem que o local já era povoado antes da ocupação pelos índios da etnia Cariri.   No primeiro momento, o povoado de Campina Grande se desenvolveu por sua localização estratégica entre o sertão e o litoral, vindo a se estabelecer como um importante ponto de passagens e rota comercial.   A sua vocação de entreposto chegou aos dias de hoje com o entroncamento das rodovias 104 e 230, por onde passam milhares de viajantes todos os dias.   Voltando à história, após alguns anos da sua fundação, em 1750, o povoado de Campina Grande subiu à categoria de freguesia e de vila em 1787, quando passou a ser chamada de Vila Nova da Rainha, em homenagem a D. Maria I, rainha de Portugal.   Somente em 11 de outubro de 1864, há 159 anos foi que Campina Grande conquistou a categoria de município. Na ocasião do seu nascimento enquanto cidade, Campina ainda não era grande, mas já caminhava para o se tornar a cidade referência no alto da Serra da Borborema.   O desenvolvimento foi uma tônica em Campina Grande e ganhou forte impulso com a cultura do algodão e a chegada do trem, em 1907. O algodão ganhou a alcunha de “ouro branco”, não por acaso, fez com que Campina Grande subisse de patamar, acelerou o seu crescimento e mudou de forma definitiva a história da cidade.

O progresso do Ouro Branco

O primeiro boom de crescimento de Campina Grande se deu com o beneficiamento do algodão, o ouro branco. Um fato curioso é que a cidade não produzia algodão, porém era a única no interior do Brasil a contar com o maquinário para o seu beneficiamento.   Com isso, toda produção da Paraíba e do Nordeste escorria para Campina Grande pelas ferrovias. De forma acelerada, Campina cresceu e se consolidou como um importante posto comercial no interior do Nordeste.   Destaque-se mais uma vez a localização estratégica de Campina Grande e a proximidades para cidades de João Pessoa (130km), Recife (190km), Natal (218) e Caruaru (147km).   O auge do beneficiamento do algodão elevou a população de Campina de 20 mil habitantes, em 1907, para 130 mil, em 1937. Ressalta-se que a mesma marca só foi alcançada por João Pessoa na década de 50. Nesse período, Campina Grande se tornou o segundo maior polo exportador de algodão do mundo, ficando atrás apenas de Liverpool, na Inglaterra.   A cultura do algodão colocou Campina Grande nos trilhos do progresso. A partir daí a indústria, o comércio e os serviços vieram à reboque e a cidade era reconhecida como o coração financeiro e econômico da Paraíba. À João Pessoa cabia a administração pública do estado – o que não era um demérito, apenas um fato curioso no desenvolvimento das suas cidades.   Como todo auge tem também o seu declínio, o beneficiamento do algodão começou a perder força na década de 40. Faltava à Paraíba estrutura portuária adequada para escoar a produção, além disso, a concorrência com produtores nacionais e internacionais inviabilizaram a produção na região.   O algodão havia cumprido com o seu papel e diferente do que aconteceu com outras cidades, Campina Grande não estagnou com o fim de um ciclo. Ao contrário, soube aproveitar os recursos gerados para traçar os próximos passos, dessa vez em direção à educação e tecnologia.

Polo tecnológico e universitário

Campina Grande é conhecida hoje por ser um polo universitário, tecnológico e pesquisa. A cidade conta com mais de 15 instituições de ensino superior, sendo 3 delas públicas, a UFCG, UFPB e o IFPB.   Ao todo, são mais de 50 mil estudantes universitários que agregam dinamismo à cidade e movimentam a economia.   Os esforços para fazer de CG (outra forma de falar Campina Grande) uma referência na educação começou em 1952, com a implantação da Escola Politécnica da Paraíba, a primeira do estado. No começo, os primeiros cursos tinham como foco os estudos em engenharia e tecnologia.   Conta-se que a escola tinha um nível de exigência elevado e, portanto, formava bons profissionais. A boa fama do ensino superior se espalhou pelo Nordeste, atraindo ainda mais estudantes para a cidade.   O ano de 1968 entrou para a história, pois a Politécnica de Campina Grande havia recebido o primeiro computador do Norte e Nordeste. O equipamento, um IBM 1130, contribuiu decisivamente para a criação nos anos seguintes de cursos de pós graduação em engenharia e ciências da computação.   Conta-se que a compra do equipamento foi resultado dos esforços da comunidade acadêmica e do empresariado local que organizaram, inclusive, rifas para viabilizar o projeto.   Esse fato reforça o caráter pioneiro e ousado do campinense que se permite sonhar grande e corre atrás do seu lugar ao sol na Praia de Ponta de Campina – reduto litorâneo do campinense.   O fomento em tecnologia ganhou reforço em 1984 com a criação da Fundação Parque Tecnológico da Paraíba — organização sem fins lucrativos que visa o avanço tecnológico e científico do Estado.   Na atualidade, Campina Grande se destaca pelo elevado número de empresas de TI que desenvolvem e exportam softwares para todo o mundo. O setor é responsável por formar profissionais capacitados e movimenta milhões na economia.   Os cursos de tecnologia, engenharia elétrica e ciências da computação da cidade são reconhecidos nacionalmente. E, inclusive, muitos profissionais formados aqui atuam em grandes empresas em outros países.

O Maior São João do Mundo é de Campina Grande

Em Campina se trabalha, diverte-se e trabalha e se diverte ao mesmo tempo. Uma prova disso é a festa de São João. Os festejos movimentam toda a cidade entre os meses de junho e julho, desde 1983 quando teve a sua primeira edição.   Apesar de ser nordestino — di Natal — eu nunca havia passado o São João em uma cidade com tradição na festa. E posso dizer que não conhecia o São João até vivenciá-lo em Campina Grande.
São João de Campina Grande no Parque do Povo, show de Elba Ramalho
Parque do Povo no São João de Campina Grande 2022 - Foto minha
  O São João de Campina Grande, conhecido como o Maior São João do Mundo, começou a ser realizado no ano de 1983 de forma improvisada, onde hoje é o Parque do Povo. Já no ano seguinte, em 1984, a festa ganhou 30 dias no calendário, e de lá pra cá só foi interrompido por dois anos durante a pandemia do COVID-19.
A representação do São João para o campinense é muito maior do que as festas públicas ou pagas e suas atrações famosas. O São João é significativo pois é a época do ano para reunir a família, na prática, o que vemos acontecer em Campina Grande é algo muito similar ao Natal.   É comum que as casas sejam decoradas e fiquem cheias por receber os parentes que moram fora da cidade. As fogueiras em frente às casas, agora proibidas, ainda podem ser encontradas nos bairros mais afastados do Centro, onde as pessoas confraternizam em família e com os vizinhos.
Fogueira do Parque do Povo no São João de Campina Grande
Fogueira de São João no Parque do Povo, em Campina Grande. Minha foto – dá para perceber, não é? rsrs
O São João impressiona por seus números, para 2022 a expectativa era movimentar mais de 400 milhões de reais durante o evento, mais de 3 mil empregos gerados e mais de 2 milhões em público nos 30 dias de festa.   O São João é uma marca registrada da cidade. Dá a oportunidade de fazer novos negócios, renda extra, proporciona diversão e, o mais importante, agrega e reúne famílias e amigos.

Curiosidades e o pioneirismo campinense

O campinense é naturalmente pioneiro. Como já disse, o primeiro computador do Norte-Nordeste foi instalado aqui, dando início à guinada tecnológica na cidade.

 É também empreendedor e como consequência de ser o primeiro polo industrial do estado, a cidade de Campina Grande é a sede da Federação das Indústrias da Paraíba (Fiesp). Por sinal um prédio com arquitetura muito bonita.
 
Muitas empresas presentes em outras cidades do Nordeste, como João Pessoa, Natal e Recife começaram as suas atividades em Campina Grande, e a partir daqui expandiram. Não é a toa que em seu hino, o campinense canta ser da “Capital do trabalho e da paz”.   Outro fato curioso do pioneirismo campinense, foi ter sido a primeira cidade do interior do Nordeste a possuir emissora de televisão, a TV Borborema, em 1966. Dessa forma, CG largou na frente de João Pessoa (1986), Natal (1972) e de outras cidades maiores.   Campina Grande é também conhecida como a Rainha da Borborema. E essa é uma característica que lhe torna peculiar no Nordeste. A denominação se dá pois Campina está localizada no alto do planalto da Borborema, entre 500 a 600 metros de altura.   A circunstância dá a cidade um clima agradável durante boa parte do ano. Para nós, nordestinos, chega a fazer frio no inverno com mínimas que baixam a 16° graus.   O clima ameno e chuvoso, próprio do brejo paraibano, com não raro aparecimento de neblina, surpreende os visitantes no primeiro momento, talvez, mais habituados com as visões do Nordeste seco e árido da televisão.   Um fato interessante sobre o clima de brejo é que muitos campinenses aproveitam os finais de semana e feriados para descansar nas cidades serranas vizinhas, em especial Bananeiras e Areia. São muitas as opções de hotéis fazenda e nos últimos anos o setor da construção civil viu crescer a demanda por construção de condomínios na região.   Algo diferente para mim, pois o mais natural para mim, como natalense, é ir para a praia quando aparece uma oportunidade. Agora, tenho mais opções, posso ir para alguma serra ou à João Pessoa, no litoral. Mais um ponto positivo de CG que torna a minha experiência ainda mais interessante.

Campina é Grande — minha experiência

Há quase 3 anos morando em Campina Grande é comum que eu me pegue questionando se Campina é uma cidade grande ou pequena. Contextualizando para o leitor, eu vim de Natal/RN, que em população é consideravelmente maior do que Campina.   Porém, por ter vindo de Natal e conhecer outras cidades maiores, eu achava a Cidade do Sol — dizem que não bom repetir palavras — pequena, não falo com uma conotação ruim, sempre gostei de morar lá. Eu costumo dizer que Natal é uma cidade fácil de viver e, agora, como morador de Campina, vejo que aqui é ainda mais fácil.   Eu moro em um bairro a 6 quilômetros do centro, e levo em média menos de 15 minutos para chegar no cartão postal da cidade, o Açude Velho.    O Açude Velho é um dos principais pontos turísticos da cidade e um dos meus lugares preferidos em Campina. Nele é possível fazer atividade física, caminhar, aproveitar o pôr do sol ou sentar em um dos barzinhos e restaurantes para curtir o momento.

Pontos turísticos no entorno do Açude Velho

Museu dos 3 pandeiros

Museu dos 3 pandeiros - Museu de Arte Popular da Paraíba (MAPP), idealizado por Oscar Niemeyer. Foto minha.
Museu dos 3 pandeiros - Museu de Arte Popular da Paraíba (MAPP), idealizado por Oscar Niemeyer. Foto minha.
   

 

Museu Digital do Sesi

Foto de Bruna Dinardi — retirada do site segueviagem
Foto de Bruna Dinardi — retirada do site segueviagem
     

Monumento Farra na Bodega — Homenagem a Jackson do Pandeiro e Luiz Gonzaga

Monumento Farra na Bodega em Campina Grande é um ponto turístico
Farra na bodega – foto minha
   Monumento Os Pioneiros da Borborema
Monumento os Pioneiros da Borborema em Campina Grande
Os Pioneiros da Borborema e eu - foto minha.
   

Parque da Criança

Parque da Criança em Campina Grande
Foto retirada do site PBTUR
   Campina conta com serviços de entretenimento de qualidade como restaurantes, bares, hotéis dentro da cidade e hotéis fazenda próximos para aproveitar o dia. Espero não precisar, mas no bairro da Prata é possível encontrar toda especialidade médica.
Em resumo, eu encontro tudo que preciso em Campina Grande, com economia de tempo e energia. Por isso, a vejo como Campina GRANDE, mesmo com uma população ainda pequena, se comparada à cidades maiores.   Pode parecer clichê o que vou falar agora, Campina é Grande pelas pessoas que moram aqui. Eu vejo na população de Campina a disposição para fazer acontecer, o empreendedorismo que se reflete nas construções modernas e no pioneirismo em querer estar sempre na vanguarda, além da já conhecida alegria e receptividade característicos do nordestino.   Por todos os seus atributos e qualidades, a população campinense desenvolveu um sã orgulho pela cidade, sua história e conquistas — algo que me identifico bastante, apesar do pouco tempo como morador.   Campina Grande é a capital do interior paraibano, quiçá, nordestino. E mais do que isso, é a Rainha da Borborema, e como toda rainha, não perde a majestade.
 

 

 
 

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Pedro Motta é aluno e professor voluntário na Nova Acrópole há mais de 10 anos e compartilha o que reflete e aprende no blog Escriba do Dia.

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