Como cultivar e manter a juventude interior?
Tradicionalmente, o 12 de outubro é marcado por postagens nostálgicas de quando tínhamos décadas de idade a menos. O Dia das Crianças possibilita o retorno momentâneo a um tempo que ficou no passado, mas que muitos gostariam de reviver, ao menos psicologicamente.
Eu realmente não acho que exista o desejo de retornar a ser criança. Porém, a data dispara o gatilho da nostalgia e desperta o gostinho doce da infância, com suas aventuras e descobertas e, também, a lembrança de uma época sem responsabilidades e compromissos.
Se a infância é a fase das descobertas, brincadeiras e pouca responsabilidade, na fase adulta temos o oposto. Após alguma pós-graduação, entende-se que não há mais o que aprender.
As brincadeiras são substituídas pelo esporte radical da corrida com obstáculos, consiste em acordar cedo, fazer o máximo de atividades possíveis, no mesmo tempo em que desvia ou sofre com os problemas no meio do caminho. No fim, parece que nunca vencemos.
As responsabilidades se acumulam na mesma velocidade em que se busca achar um culpado para os nossos problemas.
Diante de um cenário pouco estimulante, é de se entender a espera pelo 12 de outubro. Momento em que poderemos esquecer por 24 horas todas as obrigações, das implicações da fase adulta e voltar a ser crianças.
Possíveis soluções filosóficas
A filosofia me trouxe o bom hábito de observar e refletir e, agora, a escrita me permite compartilhar essas reflexões m forma de uma síntese. A síntese é ponto útil para mim, e que espero, também útil para quem ler.
Para manter a juventude interior viva é preciso observar e corrigir algumas atitudes que tomamos por padrão quando adultos, mas que não fazem bem.
Como todo processo filosófico, é necessário tomar consciência para a causa do problema e depois mexer por dentro para ter mudanças foras e, assim, resultados diferentes.
Seguem abaixo alguns aprendizados para manter a juventude interior e ter presente o senso de aprendiz, o encanto pelo novo e a alegria diante da renovação constante da vida.
Juventude interior é uma condição interna
Infelizmente, os padrões sociais de beleza venderam a ideia de que ser jovem significa manter, de todas as formas, a juventude física.
O resultado disso é que o Brasil é o segundo país no mundo em cirurgias plásticas, atrás apenas dos Estados Unidos, dados de 2020. A juventude da alma em nada tem relação com o físico.
É bastante comum nos depararmos com situações estranhas, mas rotineiras, por exemplo: jovens sem entusiasmo pela vida de um lado, e do outro, adultos e idosos que não sabem envelhecer.
A juventude interior não privilegia uma fase da vida em detrimento de outra. Pode-se ser jovem com qualquer idade. E algumas atitudes ajudam a cultivar esse estado interno.
Cultive a pureza
São muitos os vídeos e estudos que mostram como as crianças se relacionam de forma mais pura e limpa com os demais. Com o avançar dos anos e com os “aprendizados” que vamos recolhendo, perdemos a capacidade de nos relacionar com o outro a partir do coração.Uma das crianças mais famosas do mundo nos deixou um importante ensinamento neste sentido:
Só se vê bem com o coração. o essencial é invisível aos olhos — O Pequeno Príncipe.
Ver com o coração é um atributo da pureza que não distingue as coisas pelas diferenças externas.
As diferenças existem e geram incomodo à nossa personalidade. A grandeza das crianças está em passar por cima dos incômodos, que em nós adultos se convertem em grandes baobás, em poucos tempo voltam a brincar com o coleguinha que havia brigado minutos antes.
Ver com o coração nos dá a capacidade de unir, tal como fazem as boas mães e pais que veem as diferenças em seus filhos e acima disso, enxergam o seu coração e dão o que é próprio a cada um.
Outro ponto de atenção são as críticas. Elas destroem as relações e distanciam antes mesmo de uma nova oportunidade. Ser jovem, ao contrário, permite reaproximações por seu aspecto renovador sempre presente.
A ciência talvez ainda não tenha provado, mas eu tenho para mim que as críticas são as maiores causas de rugas e problemas mais sérios de saúde.
Aprender a cada dia
Quando eu falo na capacidade de aprender sempre, eu quero dizer sobre os aprendizados próprios da condição humana. Sem diminuir a importância em aprender um novo idioma ou fazer um curso técnico, precisamos aprender a despertar nossas potencialidades interiores.
Percebam que quando crianças, estamos sempre aprendendo a Viver, e não simplesmente adquirindo novas habilidades técnicas, como fazemos na fase adulta.
Um dos problemas da sociedade atual é que seus adultos estão se tornando puramente intelectuais. Quando crianças não, na infância aprende-se a viver e todos os momentos são especiais por estarem repletos de descobertas e novos aprendizados — por que não seguimos assim quando adultos?
Observem uma criança e vejam como ela está a todo tempo aprendendo e buscando se desenvolver.
Se muito pequena e não consegue fazer algo, ainda assim tenta (o adulto reclama do problema). Se tem alguma dificuldade, insiste (o adulto procura culpados e desiste). Caminha para lugares novos, vai ao encontro do desconhecido (o adulto fica no conhecido, automatiza a vida), até se coloca em perigo por falta de discernimento.
Perdemos a noção de aprendizado para a vida na fase adulta, e nos frustramos, pois acumulamos muitos conhecimentos, que não se traduzem em sabedoria de vida.
Quando crianças todo aprendizado se dá em razão da própria condição humana. É um imperativo para seguir vivo, ou aprende as necessidades básicas ou não avança na idade. Pode soar duro, mas não é um aprendizado intelectual que nos sustenta na primeira infância.
A filosofia, como estudo na Nova Acrópole, ensina a separar o que chamamos de vida intelectual e vida moral. A primeira não tem compromisso com a vida como ela é, pois se satisfaz na mente, em reter informação, assim como um HD de computador faz.
A vida moral, ao contrário, propõe a vivência daquilo que se aprende. É exatamente isso que as bebês e crianças menores fazem. Põem em ação o que estão aprendendo a cada momento.
Uma criança deseja subir numa árvore mas tem medo de altura, quando vence essa barreira, ela aprende mais sobre vencer os medos, do que técnicas de escalada para subir em árvores.
Quando adultos, compramos livros que ensinam a vencer os medos, mas não subimos nas árvores. Essa é a diferença entre a vida intelectual e vida moral.
Ainda sobre esse ponto do aprendizado, outro aspecto de juventude interior é a capacidade de manter-se curioso.
Quando eu era criança eu ganhei um livro O Guia dos Curiosos, eu estava completando 9 anos e ainda guardo o livro por seu valor sentimental.
O livro traz curiosidades diversas, como a lista de cidades em que foram realizados os Jogos Olímpicos da era moderna. Atenas sediou a primeira primeira edição em 1896, na época de lançamento do livro a última edição havia sido em Atlanta, em 1996.
A leitura do Guia dos Curiosos me proporcionou um certo despertar filosófico em querer aprender mais e sobre coisas diversas. Sou grato a ele por esse ensinamento que vai muito além das suas curiosidades
Seja bem humorado
Talvez o maior sinal de velhice, em qualquer idade, seja o mau humor. Que triste do cidadão que perde a alegria de viver e vive resmungando, se torna crítico e engessado. Essas atitudes distanciam as pessoas de nós e dos verdadeiros aprendizados da vida.
Eu não me recordo de ter conhecido uma criança rabugenta, pode até existir, mas não é o mais comum. É comum encontrar idosos resmungões e atribuir a atitude à idade, porém, na velhice apenas se acentua tudo aquilo que foi cultivado ao longo da vida.
Criar hábitos saudáveis, o espírito desperto para a aventura, a curiosidade para aprender e o bom humor é fundamental para cultivar a juventude interior.
O 12 de outubro é também aniversário da minha irmã, com a qual dividi a minha infância e hoje divido aventuras ainda maiores. Luiza, desejo a você o atributo da juventude interior para seguir aprendendo e buscando os mistérios da vida.
Eu e minha irmã em praias significativas |
Espero que o Dia das Crianças seja um bom momento para despertar a boa dose de juventude interior, a ambrosia de Hebe a deusa da Eterna Juventude, que serve aos deuses do Olimpo o néctar capaz de nos manter sempre Jovens, Fortes e Vivos.