Veraneio em família: renovação pessoal e de vínculos

Existe uma tradição na cidade onde eu nasci, que transforma o substantivo veraneio em ação entre o fim de dezembro e final de janeiro, às vezes, chegando até o carnaval. Nesse período do ano o natalense gosta de veranear.

O veranear se caracteriza pela migração da população natalense para as praias do litoral Sul ou Norte do estado. Eu sempre veraneei no litoral Sul, todas as minhas lembranças quando criança são das praias de Tabatinga e Pirangi e agora, mais recentemente, Buzius.

Veranear por muitos anos foi como a extensão do Natal para a minha família, apesar de que tanto a festa do Natal quanto o veraneio tenha mudado bastante nos últimos anos. É natural com as passagem dos anos, as famílias crescem, os costumes mudam e tudo muda.

E longe de buscar o lugar comum do “antes era melhor”, penso que 15, 20 anos atrás era simplesmente outro contexto. Foi muito bom veranear naquele tempo.

Tudo era mais simples, em termos econômicos e nos gostos, hoje se tem mais gostos. A casa de veraneio era compartilhada com muitos tios e primos. Haviam muitas redes na varanda, que eram recolhidas pela manhã para dar lugar às mesas para as refeições ou acaloradas partidas de sueca. O cartiado começava pela noite e rendia umas 3 horas de muita diversão.

Peru calado ganha um cruzado – não sei dizer se essa frase é um ditado, mas ela é na minha família. E era a frase mais repetida pelos mais velhos quando eu e meus primos, então com 7,8 anos ficávamos comentando o jogo de sueca ao redor da mesa dos adultos.

Prestígio era ser promovido para a mesa deles. Muitas partidas emocionantes aconteceram nesses veraneios, algumas confusões também, acho até que os espertinhos ‘roubavam’ mais para movimentar do que para levar o jogo.

Só sei que eram ‘bois’ passados de um lado para o outro da mesa. Os bois eram representados por grãos de feijão ou milho. Antigamente deviam jogar sueca apostando bois, na minha família os grãos de feijão eram só grãos de feijão mesmo.

Passou o tempo e o veraneio encolheu. Hoje se satisfaz com 15 ou 20 dias, no máximo – com promessas de sofrer novos cortes. As casas não são mais superpovoadas, só em dia de churrasco ou alguma preparação especial. Ainda tem as redes, essas não podem faltar nunca.

O veraneio lá em casa mudou em muitos aspectos, mas mantém sua essência agregadora, mesmo reunindo menos. Ainda é tempo de descanso, para desopilar e renovar as energias para o ano que se inicia com muito banho de mar e comilança.

Mudou mas segue sendo muito bom, e seguirá mudando, assim como o Natal mudou, as festas de aniversário e os almoços de domingo na casa da avô. Na certeza da mudança se constrói novos capítulos, com a chegada de novos personagens, cenários e aventuras.

Veranear é uma das ações mais agradáveis do ano! Estando encerrado, para mim, o veraneio 2024, aguardo pacientemente o local da minha rede para o veraneio do próximo ano.

Praia de Buzius, no Rio Grande do Norte, onde passei meu último veraneio
Praia de Buzius, litoral sul do RN, vista de uma duna.

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Pedro Motta é aluno e professor voluntário na Nova Acrópole há mais de 10 anos e compartilha o que reflete e aprende no blog Escriba do Dia.

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